segunda-feira, 18 de maio de 2009

Dia Mundial Contra a Pedofilia e o Abuso de Menores

Sexta-feira passada, frustrada por não poder assistir a um filme que tinha planejado, sentei-me para ver Globo Repórter e me chocou a inovação do tema. Aquele programa, que normalmente só fala de árvores e animais, resolveu tratar do ser humano. Resolveu falar dos inúmeros casos de pedofilia e abuso infantil no Brasil.Agora, percebo que a razão de tal abordagem se deve ao dia de hoje, ou de ontem, já que passa da meia noite.
Acabei de ver um filme que aborda tema semelhante: o tráfico de mulheres. Pode-se dizer que trata do mesmo tema já que a personagem central é uma menina de 17 anos, o que a coloca, para a sociedade, como menor e não como mulher.
Parece-me, então, que esse assunto está em voga. E acho isso deprimente. Acho deprimente criarmos um dia pra manifestarmos que somos contra isso. E, com tal enfoque, banalizarmos um assunto tão sério.
Mas acho que no fim das contas o que me deprime mesmo é a humanidade, o ser humano. Me pergunto até onde iremos e o que mais violaremos, além de nossos filhos. Me pergunto que futuro podemos esperar de uma infância e adolescência violada, mutilada, machucada...
E aquilo que parece ser um ato de heroísmo e pró-ativismo no combate a práticas tão vis, me soa, de fato, como covardia, como irresponsabilidade e como "conversa pra boi dormir".
Até onde saiba, a criação de um dia solene em memória dos mortos, não os traz de volta. E a criação de um feriado em homenagem aos trabalhadores, nunca mudou seu estado de opressão e dependência. Pelo contrário, nos esquecemos dos mortos durante o ano todo, vindo a lembrar deles apenas em 2 de novembro e o mesmo acontece com os trabalhadores, citando apenas alguns exemplos.
Assim, o ato "digno" e "louvável" e "invejável" de se criar um dia contra a pedofilia, em vez de me alegrar a alma e acrescentar dias de vida a meu doente coração, me causa náuseas e arritmias prolongadas.
A tendência agora, é de nos esquecermos das crianças violentadas diariamente para então, daqui a um ano, ouvirmos números, estatísticas, depoimentos de mães e vítimas. Daqui a um ano, nos emocionaremos, ficaremos impactados pelas histórias tristes e esperaremos calados o próximo 18 de maio. Ou então o próximo 12 de outubro, quando, se Maria deixar, citaremos o fato de que a infância de muitos tem sido roubada em nosso país.
Eu sinto vergonha de mim e do resto da humanidade toda! Vergonha de nossa hipocrisia e de nossa maldade! Vergonha de nossa sujeira e da podridão que vejo em nós, em todos nós.

Aí, como se não tivesse nada ver, converso hoje, antes de ver o filme, com um conhecido, sobre o enfoque indiano no cinema e na novela brasileira. A novela banaliza e faz uma caricatura da vida naquele país, entorpecendo a sociedade brasileira que, agora, se vê envolta em roupas, comidas e jargões do Oriente. E isso também me deprime.
Será que há esperança? Será que algum dia deixaremos de nos enganar e faremos algo verdadeiro pra mudar nossa realidade? Talvez.
Mas sei lá,enquanto a gente quiser assistir "Caminho das Índias", ter um Pajero Full e chorar por causa do cabelo cinza, as coisas vão continuar como estão. Enquanto a gente achar que criando um dia estamos fazendo nossa parte, nada vai mudar. Enquanto a gente quiser se enganar, o futuro irá se dissipar. Enquanto...

... deixa eu ir dormir que amanhã o cabelo cinza me espera pra mais uma lavagem. E "Caminho das Índias" pra mais um episódio. E o Pajero Full pra mais uns centavos na poupança. E é isso que me deprime!

Vou dormir em paz! E crianças durmam em paz! Estamos quites sim? Dei-lhes um dia em troca de uma consciência menos conturbada. Na verdade, acho que vocês me devem uma: dei-lhes um dia e um texto. Não digam, jamais, que nada fiz para que deixassem de ser violadas!

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